Formação: Comunidade Apóstolos
Dom Bosco foi um homem de decisão e atitude, um homem especialmente voltado para a ação, sobretudo no que dizia respeito á educação dos jovens mais pobres. Ele renovou na igreja a espiritualidade da ação.
O caminho espiritual de Dom Bosco pode ser resumido na seguinte frase: “dá-me almas, as vidas humanas; podes ficar com o restante”. É um lema aplicado a toda a família salesiana por aqueles que seguem a espiritualidade de Dom Bosco.
Sua espiritualidade é fortemente realista e aceita que o homem assuma plenamente a sua humanidade. Os problemas que ele costuma enfrentar, suas limitações, são objetivos saudáveis para o seu crescimento e levam o homem a ser mais compreensivo e humilde. Ao tomar para si esse tipo de atitude, sem ilusões, consciente de que é formado por corpo e espírito, o homem aprende a amar a própria corporeidade e a ser mais parecido com Deus, amoroso e compreensivo com os outros e consigo mesmo.
Essa é a lição de Dom Bosco para a humanidade. Além disso, é preciso ressaltar que a espiritualidade de Dom Bosco tem uma marca juvenil inconfundível ao mostrar-se alegre e espontânea. Ele tinha no jovem o seu foco de evangelização.
Uma espiritualidade como a de Dom Bosco, jovem e humana, é tudo o que o homem de hoje, mais especificamente os jovens, precisa para encontrar a si mesmo e a Deus.
A vida e a Espiritualidade de Dom Bosco
A bibliografia e a espiritualidade de Dom Bosco são simples, porém profundas e cheias de significado. Sua trajetória foi carregada de amor, simplicidade e bom senso. Dom Bosco foi um homem carismático, marcado por Deus, dotado de dons espirituais e fortes convicções de fé que sustentaram seu grande coração numa vida totalmente dedicada aos meninos pobres.
Nascido em 16 de agosto de 1815, em Castelnovo d’Asti, Piemonte, Itália, em uma família de pobres camponeses, desde criança sentiu-se chamado a consagrar a sua vida aos jovens. Aos dez anos de idade, já órfão, teve um sonho, no qual alguém pedia para que ele transformasse em cordeiros muitos garotos violentos que estavam em um campo. Sentiu nesse sonho o chamado de Deus para educar os meninos pobres da região onde morava. Na hora, não entendeu bem o sonho, mas sempre percebeu nele a vida e a missão que Deus lhe confiou. Nesse mesmo sonho, a pessoa que havia lhe dado a mensagem também prometeu dar-lhe a Mestra. Esta seria Maria, mãe de Jesus, com o nome de Maria Auxiliadora da Igreja.
Desejou tornar-se sacerdote, caminho que não foi fácil percorrer. Mas com o auxílio de muitas pessoas, conseguiu alcançar o ideal e formar-se padre. Já nos primeiros anos de vida sacerdotal via muitos garotos vagueando pelas ruas, e, tempos depois, encontrava-os na cadeia. Seu diretor espiritual levou-o para confessar nos hospitais e nas prisões de Turim. Foi nesses ambientes que ele encontrou em contato com a realidade daquela juventude abandonada. “Fiquei horrorizado e achei que deveria acolher esta gente, fazer alguma coisa por eles, tomar uma atitude”, disse Dom Bosco.
Diante dessa situação, prometeu a Deus dedicar toda sua vida na educação desses jovens, prevenindo possíveis problemas que pudessem torná-los vítimas das más influências do ambiente onde viviam e oferecendo a eles uma boa educação para que fossem bons cristãos e cidadãos.
Reuniu alguns jovens, ensinou-lhes catecismo e preparou os para a vida, proporcionando-lhes uma profissão. Percebeu que era o que Deus lhe pedia.
Dom Bosco, ao longo de sua vida, passou por muitas crises e teve que lutar muito para que seu ideal de educar os jovens no caminho de Deus fosse concretizado.
Dom Bosco morreu em Turim em 31 de janeiro de 1888. Foi declarado santo por Pio XI na Pasço de 1934. No ano centenário de sua morte, o papa João Paulo II proclamou-o Dom Bosco, Pai e Mestre da Juventude.
O segredo do caminho espiritual de Dom Bosco é seu grande coração, sempre preocupado com os jovens, principalmente com os que estão em situação de risco.
Características da Espiritualidade de Dom Bosco
1) Uma espiritualidade para jovens deve ser necessariamente juvenil, alegre, descomplicada e direta, criativa, não repetitiva. Além de ser uma forma de piedade aos jovens e capaz de ajudá-los a rezar e trabalhar pelos outros.
2) Outra marca da ação salesiana é a da presença. Ser jovem com os jovens, criança com as crianças, adulto com os adultos é a regra de ouro da pedagogia salesiana. Dom Bosco sabia que só atinge o coração dos jovens quem convive com eles, quem é amigo. Essa convivência amiga produz milagres.
3) A espiritualidade salesiana tem um projeto inspirado na seguinte frase encontrada na Bíblia: “Dai-me as almas”. No livro do Gênises, a palavra “almas” tem o significado de “vidas”. Ou seja, o maior interesse desse projeto são as vidas das pessoas, os seres humanos.
4) A vida espiritual e a corpórea são complementares, pois as duas formam a pessoa humana. Logo, não se deve priorizar apenas uma delas. Em sua prática educativa, Dom Bosco ensinava a rezar e a trabalhar. Seus alunos deveriam estudar para ter um emprego e ganhar a vida. Queria que seus jovens fossem, além de bons cristãos, honestos cidadãos na sociedade.
5) A proposta espiritual de Dom Bosco deve ser semelhante a uma escalada. Da mesma forma que um alpinista encontra dificuldades para escalar uma montanha, por causa do caminho intransitável e do cansaço até atingir o pico, assim deve ser sentida a escalada espiritual daquele que quer seguir Dom Bosco. É importante ver que há obstáculos, que o pico está distante, e quase impossível de ser alcançado, mas que quanto mais alto se consegue subir, maiores serão os horizontes e a felicidade do alpinista. Ao atingir o ponto mais alto, percebe-se que aquilo que parecia impossível torna-se realidade.
6) O evangelho convida todos os cristãos para serem santos. Em geral, os santos da Igreja são adultos, mas Dom Bosco, em seu tempo, tomou a iniciativa de ofertar essa proposta aos seus jovens alunos. Um deles foi São Domingos Sávio, um jovem santo de 15 anos.
7) Outra proposta de Dom Bosco que também está presente no evangelho é a união entre oração e a contemplação com a ação. Não há salvação apenas por meio da oração ou do trabalho.
8) “É morrendo, sacrificando-se pelos outros que se vive” é a proposta oferecida aos cristãos. É preciso ser pão para o homem assim como Cristo também o foi. A espiritualidade salesiana é eucarística, por isso pede para que imitemos a Cristo em seu sacrifício pela humanidade. Que cada um seja alimento para os homens. A proposta de morrer, de cansar-se por Deus e pelos irmãos é oferecida a cada cristão que recebe na missa o corpo de Cristo, a hóstia como alimento. Derramar o próprio sangue sacrificar-se pelos outros é o segredo do ser cristão missionário.
9) A espiritualidade de vida de Dom Bosco foi impregnada da presença materna de Maria. Ela esteve presente na vida do sacerdote desde o momento em que, aos nove anos, teve o sonho no qual uma senhora amável, de aspecto majestoso, vestida com um manto resplandecente, colocava a mão sobre a sua cabeça. A partir daquele encontro, Maria foi à mestra que o orientou ao longo de toda a vida.
10) A espiritualidade salesiana é profundamente missionária ou apostólica. Dom Bosco incentivava seus jovens a serem apóstolos, a preocuparem-se com os outros, a amarem e cuidarem dos colegas, incentivando-os a praticar o bem e a ter atitude. “Deus nos colocou no mundo para os outros”, dizia sempre o santo.
O Amor no centro da proposta de Dom Bosco
Dom Bosco como bom pastor, foi um homem preocupado com a ovelha perdida. Cuidava das suas ovelhas e as defendia para que nada de mal lhes acontecesse. Baseando nessa preocupação, implantou no seu sistema de educação o carinho e o afeto como elementos centrais. Sobre esse aspecto, disse certa vez o santo: “O jovem não só deve ser amado, mas deve perceber o carinho com que é tratado”. Assim, faz parte da missão do educador salesiano ser amigo do jovem e tratá-lo como um filho. As relações entre eles devem ser carregadas de um espírito de família, no qual o educador deve agir com forte iniciativa, fazendo tudo com os olhos voltados para Jesus. Deverá, desse modo, proporcionar uma união entre trabalho e oração, amor a Deus e ao próximo.
Portanto, para que se realizasse a missão de Dom Bosco – o chamado que recebeu aos nove anos para transformar lobos em cordeiros -, foi necessário que ele assumisse o desafio de transformar a violência em doçura e a intolerância em paciência. Foi também um convite cuja finalidade foi transformar sua natureza impulsiva em bondade e mansidão.
A ordem recebida no sonho ainda se faz presente: “Não com pancadas, mas com a doçura e o carinho você vai transformar estes lobos em carneirinhos”. É a vitória do coração, a vitória da bondade e da doçura.
O amor a Deus, à missão fez que homens como São Paulo criassem diferentes caminhos para levar o evangelho ás mais diversos partes do mundo. Por exemplo, o judeu Paulo de Tarso penetrou na cultura grega, fez-se grego como gregos, judeu como os judeus para apresentar o Evangelho a esses povos.
Dom Bosco também precisou usar da criatividade para alcançar o seu objetivo.